O Deus que sofre conosco
BILL CROWDER
O poeta grego da antiguidade, Ésquilo, fundamentou sua filosofia do aprendizado no duro solo do sofrimento.
Ele escreveu as palavras que Robert Kennedy citou à multidão em Indiana em 4 de abril de 1968, ao anunciar o assassinato do Dr. Martin Luther King, Jr.:
Mesmo durante nosso sono, a dor que não se pode esquecer cai gota a gota sobre o coração, até que, em nosso próprio desespero, contra a nossa vontade, vem a sabedoria por meio da tremenda graça de Deus.
“Sabedoria por meio da tremenda graça de Deus.” Sabedoria a um alto custo. Em outros contextos, a sabedoria que Jó adquiriu pode parecer banalidade ou até mesmo clichê — lugar-comum; mas quando sofremos, ela torna-se a corda de segurança na qual aprendemos a nos agarrar.
Elie Wiesel estava entre os prisioneiros do campo de concentração em Auschwitz forçados a assistir à execução de um rapaz. Assim que o menino morreu, uma voz engasgada soluçava atrás dele: “Onde está Deus? Onde está Deus?”.
Com apenas 15 anos, o coração de Wiesel só encontrava uma resposta: “Deus está lá, pendurado naquela forca.”
Há algo verdadeiro na observação de Wiesel. Em uma análise final, a cruz é a resposta de Deus ao problema do sofrimento. Na cruz, Deus entrou em sofrimento conosco e o redimiu para sempre.
Peter Kreeft disse acertadamente: “Jesus é a lágrima de Deus.”
Henri Nouwen concluiu que Deus nos liberta não pela remoção do sofrimento, mas por compartilhar dele conosco.
Jesus é “Deus que sofre conosco,” mais claramente visto na cruz de Cristo.
Talvez seja por isso que George MaCleod escreveu:
O brilhante filósofo, Fredrick Nietzsche, ateu, passou os últimos anos de sua vida num hospital psiquiátrico. É avassalador e horrível demais viver num mundo sem redenção, sem graça e sem misericórdia.
Jesus não foi crucificado em uma catedral entre duas velas, mas em uma cruz entre dois ladrões; sobre o amontoado de lixo da cidade; em um cruzamento tão cosmopolita que precisaram escrever seu título em hebraico, grego e latim; no tipo de lugar onde pessoas cínicas têm conversas indecentes e soldados apostam. Foi ali que Ele morreu. E foi por isso que Ele morreu.
A realidade do Salvador Sofredor como o “Deus que sofre conosco” incitou John Stott a dizer: “Nunca poderia por mim mesmo crer em Deus, se não fosse pela cruz.
O único Deus em que creio é aquele que Nietzsche ridicularizou como ‘Deus sobre a cruz.’ No atual mundo de dor, como alguém poderia adorar um Deus que fosse imune ao sofrimento?”
Deus nos ama com amor eterno. Os cristãos podem compreender isto com esperança e confiança, e podem oferecer este amor ao mundo sofredor mais do que somos capazes de imaginar. Não oferecemos credos ou ideologias, teorias ou teologias. Na verdade, oferecemos Jesus: “O Deus que sofre conosco.”